a paz que invadiu o meu coração

beatriz
2 min readMar 30, 2022

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“a calma que só o desespero dá” é uma expressão com a qual eu muito me identifico. contudo, recentemente a calma tá precisando de muito desespero pra chegar. terminei um namoro com o amor de minha vida (ou um dos) e tudo tem sido uma loucura estridente. a minha reação inicial foi completamente diferente do que já vivi antes, em outros términos, e consegui manter a cabeça erguida com um choro aqui e outro ali, mas acabei acreditando que seria mais fácil dessa vez.

passadas algumas semanas, ela me liga pra tratar de uma questão burocrática minha, que estava sob os cuidados dela, no meio da manhã, no meio do expediente. não fiquei apenas desorganizada, mas ansiosa, assustada e com o coração acelerado. aquela ligação bagunçou meu dia e os seguintes desde então.

Nina, da série El Tiempo que Te Doy, que representa muito bem o que tenho sentido

no mesmo dia, à noite, liguei pra conversar sobre nós, e mantivemos uma conversa muito saudável entre exes. mas daí em diante, comecei a enlouquecer. a vontade de vê-la triplicou, o interesse por todo o resto caiu, a ansiedade se instalou no meu corpo como um vírus maldito e todos os dias até hoje precisei me segurar pra não ligar pedindo pra voltar.

tenho tido as maiores reflexões filosóficas possíveis sobre tudo isso, inclusive a de que tive sorte de ter, finalmente, vivido um grande amor. só que em meio a isso parece que meu cérebro está a 550 km/h e que tudo está em atraso e existir sozinha em minha casa é uma agonia aterradora.

mas só hoje me dei conta desses monstro ansioso em minhas veias, quando, ouvindo um podcast de 40 minutos que pareceram duas horas, senti o mundo se abrir no chão, a dor me esmagar e a vontade de deitar na cama e chorar tomou conta de mim. e assim, depois de lavar os pratos, varrer a casa, limpar a caixa de areia das gatas, eu tomei um banho, chorei litros, deitei na cama e me deixei afundar na dor de deixá-la ir.

só agora, cansada, com o corpo doendo, triste, percebo como estava ansiosa e como não consegui estar presente. e a tristeza é algo que nos confere presença, que nos dá, de algum jeito, a qualidade da calma… mas eu estava me sequestrando no uso do celular e na aceleração de todas as coisas, fugindo da companhia da tristeza e fugindo a realidade de que acabou, de verdade.

ao menos agora, enfim, um minuto de paz existe em meu coração. não sei por quanto tempo vai ficar, mas é bom, pelo menos, estar aqui.

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