to law or not to law

beatriz
3 min readMay 25, 2021

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eu deveria estar adiantando um prazo, ou revisando as anotações do meu orientador no meu projeto de pesquisa mas ao invés disso pensei de forma brilhante: é HOJE eu que começo um medium! claramente, essa não é a coisa mais importante que eu tinha pra fazer agora, contrariando todas as instruções de produtividade, até mesmo as mais compassivas (desculpa, thais godinho). acontece que esperar extrair algum sentido dessa vida capenga que a gente tem levado em 2021 é esperar demais.

Photo by Joshua Rawson-Harris on Unsplash

o que eu vim aqui falar foi sobre a angústia profunda de ser a advogada titular de algum processo judicial. não sei se há muitas advogadas que irão ler isso (acho que ninguém vai ler), mas imagino que a agonia incessante de saber que há questões cruciais das vidas alheias em nossas mãos é um problema que não é exclusivamente meu. sinto esse medo infindável que me impede de relaxar: medo de perder algum prazo ou de errar na petição que o executa, ou ainda de simplesmente fazer o melhor possível e receber um resultado negativo por causa da decisão do/da juiz/juíza. a angústia da advocacia é a continuidade dos processos, a duração de anos, essa sensação de prisão, de estar colada a algo maior que eu e que, ainda assim, depende de mim.

olha, na verdade eu não gosto mesmo. eu gosto muito de ver coisas boas acontecendo, gente resolvendo a vida, ganhando dinheiro, tendo benefício previdenciário deferido. mas eu não gosto de fazer petição e me dirigir a juiz. sinceramente… não é porque eu gosto muito de ver filmes que de repente eu deveria ser cineasta, né? embora talvez atriz… mas voltando, o ponto é que não é porque me alegro com bons resultados processuais que essa profissão seja pra mim. ledo engano do meu professor de matemática do 3º ano que me disse pra fazer direito porque eu lutava pelo que achava certo — não é necessariamente no direito o lugar das pessoas que tem alguma consciência crítica. às vezes é só uma coisa de quem se importa em defender o próprio censo de justiça.

confesso que é bem triste não gostar de fazer aquilo que eu conquistei como “profissão”. curso de direito, curso pra OAB, anuidade caríssima e… zero vontade. zero tesão. zero interesse. sobre advogar o que mais sinto é medo, cansaço, frustração e desejo de largar.

enfim, desabafo enquanto planejo a saída pelos fundos e tento desanuviar o peso que essa responsabilidade me traz. tenho arrastado isso por muito tempo, mas essa autotortura não vale a pena. e olha, eu sei que até sou mais ou menos competente. talvez até ganhasse algum dinheiro, mas como? como ir atrás de algo que me inspira vontade de sair correndo pro lado oposto? todo éthos da advocacia me repele: as roupas, o jeito de falar, a autoridade, a autopromoção, a falta de reconhecimento. “ah, mas você pode fazer a sua advocacia etc etc” me diga PRA QUÊ eu vou fazer a minha advocacia se eu NÃO GOSTO de advocacia? se advogar me faz triste, sabe?

desculpa mãe, desculpa pai. não sei se vocês entendem como é ter um trabalho que não só não é fonte de realização, mas ainda é fonte de angústia e de sentimentos ruins. desculpa mesmo, mas não vai dar.

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